Dia 24/10: Dia Mundial de Luta contra Poliomielite
Em 1988, quando começou a Iniciativa Global de erradicação da pólio, a poliomielite paralítica atingia mais de 1000 crianças no mundo por dia. Desde então, mais de 2,5 bilhões de crianças foram imunizadas contra a pólio, graças à colaboração de mais de 200 países e de 20 milhões de voluntários, apoiados por um investimento internacional de mais de 11 bilhões de dólares. A incidência global de casos de poliomielite diminuiu em 99%.
Também tem havido sucesso na erradicação de certas estirpes do vírus, dos três tipos de polioviruses selvagens (WPVs), o último caso do tipo 2 foi relatado em 1999 e sua erradicação foi declarada em setembro de 2015; o caso mais recente do tipo 3 data de novembro de 2012.
Embora provavelmente os poliovírus venham causando paralisia nos seres humanos há milhares de anos, a poliomielite só passou a ser considerada como um problema importante de saúde pública a partir do século XIX. A primeira grande epidemia de pólio nos Estados Unidos, em 1916, infectou mais de 27.000 pessoas em 26 estados, resultando em aproximadamente 6.000 mortes e milhares de casos de paralisia. Ao longo da epidemia norte–americana (1916 a 1955), foram infectadas em média 38.000 pessoas por ano, sendo que em 1952 chegou–se a alarmante taxa de infecção de 35 em cada 100.000 habitantes.
A poliomielite é uma doença viral, que atinge principalmente crianças de zero a quatro anos (não vacinadas), causando a morte por comprometimento dos músculos respiratórios ou deixando seqüelas com a perda parcial ou total da capacidade de contração dos músculos, quadro conhecido como paralisia flácida aguda. O presidente norte–americano Franklin Delano Roosevelt havia contraído pólio em 1921, aos 39 anos de idade. Em 1937, Roosevelt criou a Fundação Nacional para Paralisia Infantil, talvez uma das maiores responsáveis pelos investimentos maciços na pesquisa da vacina contra a pólio. Em 1945, a Fundação Nacional para Paralisia Infantil, colaborando com a Associação Americana de Fisioterapia, investiu mais de um milhão de dólares para o avanço da fisioterapia no tratamento da poliomielite paralítica.
Diversos artigos internacionais comparam a importância da pólio como equivalente ou superior a das duas grandes guerras mundiais, no que se refere a sua contribuição para o desenvolvimento das técnicas de fisioterapia e da profissão de fisioterapeuta no mundo.
Apesar de erradicada na maior parte dos países, o poliovírus continua circulando na Ásia e África, o que impõe a manutenção de uma vigilância ativa para impedir sua reintrodução nas áreas erradicadas. Em 2005 e 2006, após a epidemia africana, além de se disseminar para países devido à baixa cobertura vacinal, o vírus disseminou-se para outros países que estavam sem casos de pólio desde 1995. Em 2007, 1265 casos de poliomielite foram confirmados no mundo, em comparação com os 784 de 2006, quando o número de países endêmicos eram seis (Nigéria, Niger, Egito, Paquistão, Afeganistão e Índia), com os 125 países em 1988 e um número de casos de 350.000. O aumento na cobertura vacinal de rotina e a instituição dos dias nacionais de vacinação permitiram a erradicação da pólio no hemisfério ocidental. Nas Américas o último caso de poliomielite foi notificado à Organização Pan-Americana de Saúde em 1991, menos de uma década após ter sido proposta a eliminação da pólio nessa região. Desde então, nenhum caso de poliomielite devido ao vírus selvagem foi relatado no hemisfério oeste e, a transmissão do vírus selvagem está restrita a outras regiões do mundo, especialmente à África e Ásia.
Atualmente só existem 3 países que não conseguiram parar a pólio: Nigéria, Afeganistão e Paquistão e combater esse 1% de casos de pólio que ainda restam tem sido um desafio. Até 19 outubro de 2016, ocorreram 27 casos de póliovirus selvagem. Em 2015 até esta data haviam sido notificados 51 casos.
Existem duas grandes dificuldades no controle da pólio: a primeira é conseguir eliminar a doença de países pobres, muito populosos e de zonas de conflito ou guerra com pouca infraestrutura ou de difícil acesso; a segunda é evitar o risco de importação dos poliovírus dessas regiões para os países onde a pólio já está sob controle ou já foi eliminada.
A cooperação dos países ricos para erradicação mundial da pólio é, portanto, de seu próprio interesse. Somente nos Estados Unidos a cada ano são gastos US$ 105 milhões e o custo da campanha para controlar a epidemia que houve na Holanda em 1992-93, foi de US$ 10 milhões, isto sem considerar os custos de hospitalização e reabilitação dos 66 indivíduos que sobreviveram com sequelas.
Assim, em 2013 a Iniciativa Global de erradicação da pólio lançou seu plano mais abrangente e ambicioso para erradicar a pólio que inclui a introdução de vacina inativada (IPV) introduzida dentro de todos os programas de imunização de rotina globalmente depois que as vacinas orais trivalentes forem substituídas pelas vacinas orais bivalentes em todos os países usando vacinas trivalentes orais (isto já se iniciou em 216) e posteriormente pela substituição total de vacinas orais por inativadas. Isto para reduzir o risco de poliomielite causada por vírus vacinal.
Somente nos Estados Unidos a cada ano são gastos US$ 105 milhões e o custo da campanha realizada para controlar a epidemia que houve na Holanda em 1992-93, foi de US$ 10 milhões, isto sem considerar os custos de hospitalização e reabilitação dos 66 indivíduos que sobreviveram com seqüelas.
Os estudos sobre imunidade de massa indicam que, para controlar a pólio e eliminar a circulação do poliovírus, é necessário vacinar pelo menos 80% da população, visto que a persistência da transmissão desse agente depende, tanto da contagiosidade como do número de suscetíveis. Na Namíbia ocorreu uma epidemia por poliovírus tipo 1, em que 27 crianças ficaram paralíticas num período de apenas três meses. Este triste episódio ocorreu quando a cobertura vacinal caiu de 80% para 59%, alguns anos após a pólio ter sido eliminada daquele país, sendo o poliovírus tipo 1 importado de Angola. Essa epidemia da Namíbia e aquelas que ocorreram em outros países (Holanda, Taiwan, Gâmbia, Senegal, Israel, Oman, Bulgária, Romênia e China) têm demonstrado que a reentrada do vírus selvagem é possível, mesmo em regiões que estavam livres da doença há muitos anos.
Em 1989 são registrados os últimos casos de isolamento de poliovírus selvagem no Estado de São Paulo e no Brasil, após um período de realização de grandes campanhas vacinais e vigilância epidemiológica. Em 1991, no Peru é registrado o último caso das Américas. Em 1994, o país recebeu da OMS/OPS o “Certificado de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem nas Américas”. A partir de então, o Brasil reafirma seu compromisso em manter altas coberturas vacinais e uma vigilância epidemiológica ativa de todo quadro de paralisia flácida aguda (PFA), possibilitando, assim, a identificação imediata e precoce da reintrodução do poliovírus, e a adoção de medidas de controle.
O melhor exemplo dos benefícios que podem ser obtidos com a erradicação global de uma doença, foi o esforço mundial para eliminação da varíola que, além de poupar inúmeras vidas, demonstrou ser possível recuperar em poucos anos os recursos empregados pelos países industrializados que financiaram o projeto.
Estima-se que, desde a erradicação da varíola tenham sido economizados mais de US$ 2 bilhões, apenas nos Estados Unidos. Por esse motivo, os custos para erradicação global da pólio têm sido financiados pela OMS, OPAS, UNICEF, Rotary Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento e outras instituições financeiras dos países ricos.
Com a erradicação global, não haverá mais a necessidade de continuar os programas de vacinação de rotina e as campanhas contra a poliomielite, e o mundo poderá concentrar recursos humanos e financeiros para combater outras doenças.
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa causada por um poliovirus tipo 1, 2, 3. Ele invade rapidamente o sistema nervoso central e pode causar uma paralisia irreversível em poucas horas. A disseminação é feita através de pessoa-pessoa. Quando uma criança está infectada com poliovirus selvagem, o vírus entra pela boca e se multiplica no intestino. Ele então é disseminado para o ambiente através das fezes e pode se disseminar rapidamente em uma população especialmente em condições de higiene e saneamento deficitárias, podendo contaminar objetos, alimentos e água. Também pode ser excretado através de secreções nasofaríngeas. Demonstra-se a presença do poliovírus nas secreções faríngeas e nas fezes, respectivamente 36 e 72 horas após a infecção, tanto nos casos clínicos quanto nas formas assintomáticas. O vírus persiste na garganta cerca de uma semana e, nas fezes, por 3 a 6 semanas. A suscetibilidade é geral, sendo que a infecção natural ou a vacinação conferem imunidade duradoura ao tipo específico de poliovírus. O período de incubação varia de 2 a 30 dias.
A maior parte das pessoas não tem nenhum sintoma ou somente apresentam febre, fatiga, dor de cabeça, vômitos, rigidez do pescoço e dores nos membros.
As formas paralíticas representam cerca de 1 a 1,6% dos casos e possuem características típicas: paralisia flácida de início súbito, em geral nos membros inferiores, de forma assimétrica; diminuição ou abolição de reflexos profundos na área paralisada; sensibilidade conservada e arreflexia no segmento atingido e persistência de alguma paralisia residual após 60 dias do início.
Para parar a poliomielite existem 3 tipos de vacinas:
Vacina Inativa contra Polio (VIP) – protege contra poliovirus 1, 2 e 3 (disponível no Brasil)
Vacina Trivalente oral (tVOP) – protege contra poliovirus 1, 2, e 3
Vacina Bivalente oral (bVOP) – protege contra poliovirus tipo 1e 3 (disponível no Brasil
Vacina Monovalente (mVOPV1 e mOPV3) – protege contra poliovirus 1 e 3 respectivamente.
Para que parar a transmissão e prevenir a ocorrência de surtos da poliomielite, aproximadamente 80% da população devem estar imunizadas.
A poliomielite foi eliminada das Américas, no entanto não estaremos livres dessa doença enquanto a erradicação não for global. A experiência de reentrada do vírus selvagem e a ocorrência de epidemias em diversos países, alertam que se deve continuar vacinando as crianças rotineiramente.
Todos os profissionais de saúde tem a responsabilidade de esclarecer às famílias sobre a necessidade da vacinação contra a paralisia infantil por que se não o fizermos corremos o risco de comprometermos o final desta história que certamente está próximo.